sexta-feira, julho 09, 2004

5-7-2004 – algumas Recordações da N 118, N 1 e outras soltas


   Cheguei, a Vilar Formoso, depois de passar por um acidente de um camião, já em terras Espanholas, a 10 km de Portugal, um colega de profissão, em sentido contrario infelizmente teve, talvez uma distracção, e por si só ter ido á berma com o reboque ao tentar tirar este do "valeta" acabou por ficar virado de rodas para o ar em plena recta...enfim, distracções que acabam por se pagar caro, felizmente para ele que não sofreu nada mas o aparato foi enorme;

   Continuei em direcção a Lisboa, passando pela novíssima a23 e pelos túneis muito bem intencionados e gratificante para quem trabalha na estrada, e estar limitado ao peso que transporta, como também à velocidade; A minha cafeteira numa perspectiva de camião velho e desgastado agradeceu;

   Tomei a saída para a Golegã, apanhei a nacional 118, bem sentado percorria os quilómetros ao som de uma musica da rádio comercial enquanto observava a sombra que a minha cafeteira reflectia na berma; É realmente enorme, por vezes ligava os máximos e o túnel que a natureza fez com o curvar das arvores, deu-me a claridade do dia e por momentos a sensação de sozinho no mundo;

   Adoro conduzir de noitefascina-me;

   E fui por ai fora, já o ponteiro do relógio controlador pendia para o dia 6 de Julho, passavam uns ligeiros 4 minutos da meia-noite, apontei a cabeça do enorme tractor á entrada da ponte da Golegã, linda, quadrada, comprida cheia de ferro, eu quase toco no topo, abri o tecto e por segundos apreciei o passar das barras de ferro que por cima de mim passavam, ali mesmo tão perto; Em obras, com semáforos e tudo, esta ponte, para muitos não passa de uma ponte, no entanto para mim além de ser isso mesmo é também muito mais, e igualmente esta nacional 118, enfim, velhas recordações em que na época dos camiões da cortiça e dos da fruta, alguns condutores teimavam em se cruzar com dois pesados em cima dela, deixando, alguns rastos de mercadorias pelo roçar nos laterais; Andava eu acompanhado com outro ao lado ou não, carregado de móveis até á pinha com uma camioneta que não podia carregar mais do que 1.000 kg, trazia na certa uns 5 ou 6.000 em cima, mas independentemente da ilegalidade, para mim era um gozo, diria mais uma grande Aventura, fascínio até; E adorava fazer aquela estrada, chamava-lhe a estrada dos Melões, comprava sempre um, ou ficava zangado por ter enfiado um barrete ou ficava contente e consolado.

   Chamusca, Almeirim, Santarém que na época das cheias não se passava na ponte, agora chamada de "velha ponte", acredita que cada curva, e na altura sabia-as todas de cor e salteado, tenho uma recordação particular, os acidentes que infelizmente aconteciam ora por cansaço ora por falta de manutenção do próprio veiculo, não tenho de forma alguma saudades dessas situações, mas sim na altura em que eu estava no inicio da minha idade após carta de condução, foram muitos anos a percorrer esta estrada;

   Torres Novas, Ribeira Ruiva penso que ainda existe um riacho onde as Senhoras iam lavar a roupa, onde eu algumas vezes em tempo de verão tomei banho, a terra dos figos, cortava tantos que ia até casa a comer, depois era o problema da casa de banho....: )

   Não esquecendo a antiga nacional que ligava Condeixa, passando por dentro de Condeixa, por dentro de Penela e ia descarregar a bonita cidade dos Templários, Tomar, nesta cidade comia sempre um queijo de cabra fresco no meio do pão tradicional, hum! Que bom;

   Temos também Castelo do Bode, Abrantes e a Constância que foi para mim a estrada mais bonita de Portugal, excepto a do Gerês, sempre ficava com o trave de admiração e até arrisco aqui a palavra fascínio por saber que a caminheta, carregada por mim (nada comparada á que conduzo hoje, tanto em altura,comprimento e largura) estava pronta até ah rolha! Ou com Muleta, dizia-mos nós, e eu nem dormia somente por saber que ia fazer uma "Grande Viagem" do Porto até Almeirim... admirava na altura os camiões TIR pensando para os meus botões que alberga carinhosamente o meu melhor amigo; Como gostava que esta "chocolateira" tivesse travões a Ar, para fazer Pschsssst! Pschssst! E colocava umas cornetas daquelas tipo Pooooooooaaaaammmmm!! Pooooooaaaaammmmm!....

   Fica era com ar de desiludido, quando após ter parado para almoçar em algum restaurante, vinha um camião "TIR" e estacionava ao meu lado....a minha camioneta era na realidade uma pequenez e ficava desiludido, chegava até ao cumulo de tentar a estacionar num sitio onde tinha quase a certeza que nenhum dos "grandes" viria para ali....: ) OS-90-04, Izusu de 3.500 kg., ao som dos supertramp em cartucho, tirava-lhe o calço que tinha debaixo do acelerador, para puder andar mais, mas os travões, pois os travões, estes faziam-na tremer toda, mais parecia uma mulher em pleno orgasmo...: ) (daqueles profundos)...Hoje sei o perigo em que andava, mas tive sorte.

   Maioritariamente todos se ajudavam, (hoje, minoritariamente) tinha-mos tempo para comer, muitas vezes protegidos por uma cabana feita de esteiras, tábuas e bancos corridos, assim se fazia um restaurante da Ti Alzira ou da Ti Maria, a escutar as noticias de uns e de outros sobre o Eusébio ou sobre os militares que estavam no ultramar;

   Lembro-me da Policia no tempo do Salazar, usar Capas amarelas, que os camionistas os apelidavam por esse mesmo nome; Nesta altura ainda muito pequeno, Uma Criança, claro! Mas sempre ao teu lado, sempre pronto para o que desse e viesse; Acabava a dormir estendido ao comprido nos bancos da velha Leyland RT-20-19 ( ou esta matricula era da Morris?) e a cabeça pousada nas tuas pernas que alternadamente subia e descia conforma metias velocidades, muitas vezes as metias sem carregares na embraiagem somente para não me acordares;

   Recordo-me, que houve um acidente, e tu tives-te necessidade de travar tão em cima que hoje lembro perfeitamente da visão que é o de acordar e ver os teus sapatos e uns pedais...
Infelizmente, de tão grande tinha sido o embate que não me deixas-te sequer chegar perto do emaranhado de chapas retorcidas que restava e pela cara em que eu, puto e pequeníssimo no meu daquela multidão observadora, tinha a certeza que algo se passava de triste, alguém tinha morrido... viemos a saber mais tarde pela rádio que tinha sido um Sr. chamado Carlos Paião.

   Não havia discos, mais tarde apareceu a caderneta com capa de um verde claro, que ainda hoje guardo uma religiosamente; Pela tarde ainda dava tempo para tirar a tradicional Sesta debaixo de uma oliveira...

   No dia 24 de Abril do Ano de 1974....um Post á parte porque este já esta enorme...

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