quarta-feira, fevereiro 18, 2004

quarta-feira, 18 de Fevereiro de 2004

Comecei a trabalhar ás 3 da manhã, acordei cansado derivado ás poucas horas de cama que tive, a contradição disto é, no caso da policia me controlar poderá ver 12 horas de descanso, descanso não, quer dizer o camião parado, porque eu somente dormi 4 horas, o dia da descarga chamo-lhe o dia D, é sempre uma fobia que nem eu posso explicar; Nunca almoço, derivado a estar dentro de fábricas ou transitários e muitas delas tem afixado a proibição de "piquenique", mas chega a hora do almoço esteja quem estiver, vai tudo almoçar, e eu ? pois, existe algumas que tem refeitório onde não tem problema em nos servir a troco de alguns euros, algumas outras não, ou não temos autorização para entrar ou os próprios funcionários comem no local de trabalho uma sande, ou ainda acontece frequentemente de tão saturados de esperar que nos chamem para carregar ou descarregar que nem damos por todos terem ido almoçar, e ali ficamos a espera, palavra muito frequente nesta profissão, A espera.
Entrei na A86 e atento ás saídas lá consegui, a esta hora não é nada difícil conduzir em Paris, a dificuldade foi depois quando queria dar com o raio da Rua, tive que perguntar, e, a esta hora somente se encontra pessoas que somente vivem para o trabalho, acreditam que muitas delas a quem perguntei, para não falar nas que não sabiam francês, muito pior não conheciam a rua onde estavam, depois perguntei a uma senhora que se encontrava dentro de uma carrinha comercial e ouvi um Bom Dia, gostei de ouvir, mesmo assim disse-me ela que vivia aqui perto mas não conhecia a rua que eu pretendia;

Isto faz-me recordar numa das minhas viagens a Dinamarca, onde levei a Ana Sofia, a minha filha mais velha, e como cheguei mais cedo do que a data marcada para a descarga tive que aguardar frente ao armazém dois dias, mesmo assim e atendendo a ter trazido alguém por isso passo a preocupar-me com a alimentação, e questionei por acaso um dos chefes de sector da empresa se eventualmente conhecia próximo um restaurante, ele prontamente respondeu-me que provavelmente seria melhor eu me dirigir ao centro da cidade que lá havia; uma resposta evasiva clara. Ele não conhecia nenhum restaurante, é tipo casa trabalho casa. E dizemos nós que estamos mal no nosso Portugal, deixai-me rir.

Bem continuando lá encontrei o cliente, depois outro e ainda outro, sim 3 descargas todas feitas na região de Paris, estou satisfeito comigo mesmo e tudo feito até ás 9 horas da manhã, já tinha desde o dia anterior o sitio onde iria carregar e "apontei" a caminheta para lá, resumindo eu estava carregado pronto para vir embora com 6 Ton. em cima ás 11.30 mnts.

Gosto quando tudo corre bem, tive um francês que me foi buscar um café, simpático, porque a maquina do café na fabrica onde carreguei estava empanada "em panne", eu não tinha autorização para entrar na sala dos empregados, disse o chefe encarregado do meu camião, ( aqui é tudo chefe, somente eu fico de fora ) o francês ofereceu-se porque conhecia lá um primo, enfim correu bem.

Muitas vezes faço-me de parvo, e dou a entender que não percebo nada disto ou somente digo, "Pardon Monsieur, ces't la première fois que Vien ici " uma frase muito utilizada quando ninguém me liga e entro de rompante pelas instalações com entrada interdita, adoro isso, depois resta-me apreciar a forma como os chefes, não chefes e empregados de limpeza todos juntos a resolverem eu ter entrado por ali dentro, é que não sou só eu, não se esqueçam do camião. Quando digo que é a primeira vez que venho cá, algumas vezes é realmente, mas quando não é, a seguir á frase dita em outra língua digo sempre Hoje em português, ora juntem o Hoje no final da frase acima indicada e percebem que com muitas exigências eu tento me divertir comigo próprio.

Vim fazer o almoço a Orleans, não gosto de passar o fim de semana nesta área contrariamente a muitos portugueses mas sim quando venho em direcção a casa, gosto de para para comer, fiz um arroz de arroz com ração de ( lata de feijão a transmontana ) Horrível, posso já dizer, mas com tanto trabalho ao longo da manhã esqueci-me de descongelar algo mais nutritivo.

Pela primeira vez fiz o almoço, almocei ( se se pode chamar de almoço ) lavei os cacos em 45 minutos ( Hein! Hernani, estou a ficar camionista ) e arranquei, passado 1 hora vinha com sono, cansado, muito cansado, parei e lavei a cara, mas não conduzi mais do que 3 horas e encostei, estou aqui, a escrever depois de ter, e aqui sim, comi bem, um Arroz com arroz e duas costeletas já descongeladas e temperadas quando tentei almoçar.

Se fosse descrever o interior da minha cabina neste momento acho que vos dava um colapso, mas o.k. eu descrevo, pelo menos sabem quando esta gelo lá fora como nós tentamos sobreviver.

Para começar, tive que aquecer o azeite e a água, tudo congelado e a carne veio perto dos ventiladores, caso contrario acontecia o mesmo; Estou sentado na cama, no banco da direita onde por razões de espaço no centro, tenho por habito colocar o frigorifico, em cima deste está um tacho destapado com uma colher de arroz dentro, uma espumadeira e uma faca, espera melhor hora para ser lavado, atras do tacho esta o meu prato com o talher a aguardar igual oportunidade; Aqui ao meu lado tenho um cinzeiro, onde de quando em vez dou umas passas e a minha caneca de esmalte azul marinho, com um pouco de vinho tinto, esta caneca tem imenso valor para mim, já vem dos tempos que traçava rotas, os paralelos, os azimutes, latitude e longitude, coitada já perdeu a asa, já levou com muito café enquanto apreciava os ventos frescos do golfo da Biscaia, isso é outra vida que não vem aqui ao caso; Continuando, á minha frente junto ao pára-brisas e em cima do tablier, tenho a garrafa do vinho, em cima do Gps está o texto do tacho, ao lado a saca do pão também faz parte da decoração interior. Horrível assim não é ?, pois mas é a realidade, embora muita gente não admita ou nem tão pouco o assuma, mas imensos o fazem, comer e ter desorganização dentro da cabina, ou pensam que tudo anda sempre arrumadinho, como eu gostaria que fosse, nada disso; Muitos poucos, mesmo entre colegas tem preconceitos em falar sobre isto.
Mais um cigarro, Ah! E por falar em cigarro, desde que saí de Portugal somente comprei 4 maços de tabaco, Hein!? Que dizes ?, estou a diminuir, pois somente a mim faz bem, o.k. Eu entendi.
Por hoje basta.

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